Sou parte de uma história, embora que ainda em construção, acredito que o simples ato de viver é político e o registro da vida é a História que deixamos para as futuras gerações.
O agora é pura nostalgia, queremos gravar palavras, momentos e sentimentos, registrar tudo que podemos hoje para o amanhã; vivemos pelas memórias, sem elas praticamente não existimos. Por isso eu guardo, registro e coleciono momentos. São como souvenirs do tempo, lembranças de uma vida visitada, pequenas recordações cotidianas eternizadas em pintura.
A minha pesquisa vem desse lugar nostálgico, da idealização romântica do trivial, do ordinário, da banalidade. Sinto que existe uma potência no comum.
Penso a pintura como um instante de um filme, ela é um fragmento de uma história em movimento. São cenas editadas digitalmente e idealizadas em cada detalhe, quase utópicas, às vezes sentidas com mais verdade do que a própria realidade da qual foram extraídas.
Por vezes me sinto suspensa, observando outras vidas, outros tempos, outras histórias. Como quem olha para dentro de uma janela e vê seu reflexo no vidro, projetando sua própria imagem na realidade do outro, por um instante não sou mais eu. Sou a pessoa do outro lado, sou ninguém, sou uma mera espectadora de universos particulares.
Marjô Mizumoto, São Paulo, 26 de Agosto de 2021